por Marcelo Mendonça
Há várias maneiras de se avaliar
o novo, e provavelmente (infelizmente) último, álbum da banda Charlie Brown
Jr., chamado La
Família 013. Fãs dos últimos discos e incondicionais com certeza vão
levantar as mãos ao céu. Assunto à parte, que demandaria muito mais tempo de
discussão, é o critério a se analisar um disco póstumo. Grandes nomes na música
como Michael Jackson até Legião Urbana, entre muitos outros, tiveram
lançamentos nesta categoria que decepcionaram não por conterem material à
altura de trabalhos anteriores, muitas vezes, pelo uso de sobras que
normalmente não seriam aproveitadas. Não que seja exatamente o caso, já que o
álbum acabaria saindo não muito diferente caso não houvesse as mortes de Chorão
e, posteriormente, Champignon.
Inevitável o tom triste de
algumas canções, devido às essas tragédias, assim como inevitável o vínculo da
já bem conhecida Meu Novo Mundo com a morte de Chorão. Faixa esta que deve
ficar mesmo como a mais famosa do disco, de fato, sendo uma das melhores. O
segundo single lançado, Um Dia a Gente
Se Encontra, também é a
música que abre o disco. Tem os moldes das músicas da banda que foram feitas
para tocar em rádios nos últimos dez anos. Aparenta, ao menos um pouco, assim
como outras, requentada de outros sucessos. O mesmo ocorre com Fina Arte e Cheia
de Vida que remetem incrivelmente a algo já ouvido em Camisa 10.
Apesar do nome, Do
Jeito que Gosto, do Jeito que Quero, é
interessante. Nem tão interessantes, Rock Star e Vem Ser Minha,
são respectivamente uma rapidinha e um reggae-ska característicos das faixas
que completam os discos do Charlie Brown. Jr.
Hoje
Sou eu Que Não Mais Te Quero, a mais longa, pode até não chegar
a ser um hit, mas está entre os pontos altos deste lançamento. Começa bem
calma, em formato de lamento, e vai aumentando até chegar a trechos enérgicos.
Letra melhor trabalhada. Mostra um ponto que o disco começa melhorar bastante.
Esta é seguida de Camisa Preta, que se não tem
a composição poética da anterior, é de longe a melhor instrumentalmente. O
clima das guitarras de Marcão e Thiago Castanho em sincronia com um inspirado Champignon
no baixo, e isso ainda melhora a partir do meio: Graveto resolve soltar o braço
na bateria e o solo da guitarra mostra habilidades só vistas neste ponto
durante todo o álbum. A voz de Chorão também está mais viva que nas demais.
Vou
me Embriagar de Você
tem uma boa melodia e arranjos agradáveis, entretanto merecia ter sido melhor
finalizada, principalmente no vocal, muito baixo, às vezes quase sussurado. Boa
música, bem a cara da banda. Em seguida, A
Mais Linda do Bar,
mais animada, talvez a mais de todas, novamente, com entusiasmantes linhas de
guitarras, fazendo a canção ficar com cara de rock clássico e blues. O álbum
fecha com duas belas baladas: Samba triste, cujo nome já sugere o clima. Com trechos
singelos, como o refrão, “enquanto o mundo dá voltas a gente espanta a solidão”
misturados partes em rap já características de Chorão. Contrastes da
Vida, voz e violão,
finaliza com tom de despedida e reafirmando que as melhores ficaram para o
final.
Por fim, analisando como um disco
do Charlie Brown Jr., não tendo toda a energia de seus dois ou três primeiros CDs,
tem um conjunto melhor que todos os lançamentos da última década deles.
Analisando como disco póstumo, não acabou sendo necessariamente um apanhado de
sobras como outros artistas, tendo em vista que o álbum estava em fase
adiantada de gravação. Analisando como um lançamento geral na música, é algo
que vai agradar, como tudo que a banda havia feito antes, um público
específico. Diga-se de passagem, é bem grande.