De tempos em tempos, Bono Vox e
seus companheiros de banda fazem uma pausa em suas famosas, megalomaníacas e
extravagantes turnês e partem para o estúdio com a determinação de um peregrino
em busca da iluminação. Como ultimamente os intervalos entre essas peregrinações
têm sido consideravelmente longos, há sempre uma apreensão por parte dos fãs,
que anseiam pelo material novo e costumam se perguntar se este será tão bom
quanto os anteriores. Ao mesmo tempo, tal demora, junto à determinação dos
envolvidos, traz sempre a nata de uma banda com um potencial enorme, e como a
música muda quase que diariamente, traz também sempre uma renovação com relação
ao disco anterior.
Desta vez, a espera foi saciada
com mais uma linda obra, intitulada Songs
of Innocence. Mescla silhuetas de músicas que eles gravaram nos anos 1980
com um sabor totalmente novo. A guitarra de The Edge é o grande exemplo disso,
fazendo linhas até então diferentes para seu padrão e outras que são
inconfundíveis para quem já tenha ouvido alguma vez U2.
Em um primeiro momento não se
encontra um grande hit, como One ou Still Haven’t Found... nem alguma
música-para-balançar-os-alicerces-de-um-estádio, como Elevation ou Vertigo, mas
é coeso sem ser repetitivo, além de extremamente agradável. A abertura do disco,
The Miracle (of Joey Ramone), título
em referência à música I Believe in
Miracles dos Ramone, foi o primeiro single e tem uma estrutura que serve
bem para ser comercializada, carregada de otimismo. California (There is no End of Love) é outra canção com grande
potencial para ser divulgada, com um refrão que permanece ecoando nos ouvidos
após a canção já ter ido.
Iris se encaixaria tão bem em um dos dois mais recentes álbuns da
banda, tanto quanto se encaixa neste, podendo às vezes passar despercebida como
ficar marcada pelo seu ritmo hipnótico. Raised
by Wolves é um dos pontos mais altos, com uma crescente, no mínimo,
interessante. O encerramento fica por conta de This is Where You Can Reach me Now, de um ótimo refrão, e da
reflexiva The Trouble, com uma bela
combinação entre o vocal de Bono com a participação de Lykke Li, e arranjos
orquestrados.
Se após quase 40 anos de
carreira, uma coleção de Grammys, dezenas de hits, álbuns consagrados, terem
sido indicados ao Oscar, a banda não precisa provar mais nada a ninguém,
mostram que não perderam o tato para compor e executar músicas de altíssimo
nível. Neste caso, não cabe muitas comparações estilísticas ou mesmo de
qualidade com discos anteriores, mas ainda que este não seja tão bom quanto
seus precedentes, servirá de suporte para mais uma extravagante e megalomaníaca
(e lucrativa, claro) turnê do U2.