quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Discos Nacionais de 2014

Apesar de não se tratar de um gênero, é sempre uma categoria a parte o rock nacional, obviamente, bandas brasileiras. Sem dúvida tem havido certa escassez de bons discos de rock ou similares produzidos aqui, falando, claro, de música cantada em língua portuguesa.
                                                                                            por Marcelo Mendonça
 

Houve muitos retornos ou lançamentos de artistas que há um bom tempo não produziam nada de novo. A primeira da lista é a banda Pitty, cujo último disco de estúdio datava de 2009. Sua vocalista homônima havia iniciado um projeto paralelo folk, e de boa qualidade, chamado Agridoce. O retorno se deu com o razoável Setevidas. Apresenta o amadurecimento do instrumental e melódico, boa produção, mesmo tendo sido gravado ao vivo em estúdio. Boas faixas que pouco lembram seu estilo anterior como Olho Calmo e Boca Aberta. Com algumas outras não seria injustiça pular para a próximo antes de ouvir 30 segundos. Os dois singles iniciais foram a faixa-título, que nada acrescenta de bom à carreira dos baianos, e Serpente, uma balada, um pouco melhor que a anterior, calma e com o melhor solo do disco.
















Um forte candidato a disco de rock brasileiro do ano é Nheengatu dos Titãs. Também sem lançar nada de inédito desde 2009, é uma volta aos tempos áureos da banda, deixando de lado o pop-chiclete-de-rádio e mostrando músicas mais pesadas e letras que contestam o sistema, política, desigualdades, vícios e manias, além de um pouco de quase tudo. Mesmo não sendo uma obra prima, é de longe o melhor lançamento dos Titãs em duas décadas, o que é notável para a banda que perdeu neste período citado músicos como Nando Reis, Arnaldo Antunes e Marcelo Fromer.Nheengatu contem 14 faixas, todas curtas o suficiente para não se enjoar fácil. A primeira faixa, também primeiro single, Fardado entra no clima das manifestações pré-Copa, mas é um álbum que merece ser ouvido na íntegra, com o volume no máximo e pulando ou balançando a cabeça.
















Os mineiros do Skank são famosos pelos muitos sucessos até hoje acumulados. Seu último disco foi Estandarte de 2008 e agora lançam Velocia, de onze faixas inéditas que passam pelos estilos já conhecidos dos fãs do grupo.Alexia abre fazendo referência e veneração (exageradas?) a Alexia Putellas (?!), jogadora do time de futebol feminino do Barcelona. Há ainda participações de BNegão, Lia Paris, além do parceiro de longa data, Nando Reis. Multidão, com o reagge-skatípico do Skank, é ao menos interessante, mas causa estranheza ao final com a mistura do rap. Além desses gêneros, há muito pop, eletrônico, balada de violão, mas quase nada de rock. O primeiro single escolhido foi Ela Me Deixou e deixa a desejar. Para a banda de tantos hits, a falta de um sucesso enfraquece ainda mais o já inconsistente Velocia.
















A estréia do ano se deu com a banda Malta, vencedora do concurso Superstar, da Rede Globo. O debut se deu com Supernova. Com uma sonoridade que lembra bandas internacionais como Nickelback, Seether e Hinder e com letras que falam quase que unicamente de relacionamentos passados e sentimentos remanescentes. Talvez a banda de maior sucesso comercial do ano, muito graças à divulgação do programa que os revelou e por ostentar uma música como tema de abertura de uma novela da mesma emissora. Os dois grandes sucessos são Diz Pra Mim e Memórias. Ressalvadas as repetições melosas do estilo, há boas músicas no disco e o grande destaque fica por conta do vocal rouco de Bruno Boncini.

















Detonautas Roque Clube lançou um CD duplo chamado A Saga Continua, com um total de 18 faixas. Uma delas, Quem é você, lembra uma mistura de Raul Seixas com Gabriel, O Pensador.Um Cara de Sorte foi o destaque entre os singles. Tem espaço para um cover da boa Sempre Brilhará de Celso Blues Boy. Nada de grandioso no disco, nem mesmo para os padrões da banda.
















Os anteriormente venerados Raimundos lançaram Cantigas de Roda, primeiro de inéditas desde 2002. Pode ser classificado como o melhor lançamento pós-Rodolfo, que contava com um CD e um EP, embora fique muito abaixo de quase todos os lançamentos da formação clássica da banda. Baculejo, que foi lançada como single, é uma boa música.BOP, mais pesada, é um dos destaques. Algumas faixas tentam restaurar o teor cômico-pornográfico que os consagraram, Cachorrinha, Cera Quente, Gato da Rosinha, Descendo na Banguela e Gordelícia.Politics é certamente a melhor do álbum. A impressão final é de um Raimundos batido no liquidificador com o Tihuana, embora há o que se aproveite.
















Outro retorno, após oito anos sem material novo, Século Sinistro dos Ratos de Porão é o mais forte expoente da vertente punk/hardcore/trash metal no país. Muito peso, bons riffs e vocal gutural de João animando qualquer fã do gênero, tão escasso em língua portuguesa. Destaque para Jornada para o Inferno, Neocanibalismo e Boiada pra Bandido.Sangue e Bunda pode causar estranheza ou risadas devido à participação do porco do vocalista. Sem trocadilhos ou ofensas, se trata realmente de um suíno de estimação.
















Costa do Marfim é o título de novo lançamento dos gaúchos do Cachorro Grande. Antes, largamente influenciados por bandas como Beatles e Oasis, aparentemente pularam uma geração de cada e hoje se assemelham a Pink Floyd e ArcticMonkeys.Nuvem de Fumaça e Como Era Bom ainda remetem muito aos primeiros discos do Cachorro, contrastando com a psicodélica Nós Vamos Fazer Você se Ligar, de quase 11 minutos.Eu Não Vou Mudar e Use o Assento para Flutuar (nome, inclusive, do disco solo do guitarrista Marcelo Gross, lançado em 2013), Crispian Mills passeiam por mares não antes navegados pela banda. O disco todo, na verdade, pode ser considerado uma grande viagem de experimentalismo e deve ser saboreado com cuidado.O sabor talvez melhore com o passar da degustação.


No âmbito cômico da música, Velhas Virgens lançou Todos os Dias a Cerveja Salva Minha Vida, com as letras habituais de outros discos. Detonator, ex-Massacration, lançou Metal Folclore: The Zoeira Never Ends... enumerando personagens de lendas brasileiras com grande dose de humor e, claro, metal. A última faixa ainda traz uma interação de Detonator com Gilberto Baroli (dublador, usando seu personagem mais famoso, o Mestre do Santuário, de Os Cavaleiros do Zodíaco). Os dois discos merecem ser ouvidos, mas de modo algum serem levados a sério.

Nenhum comentário:

Postar um comentário