Apesar de não se tratar de um
gênero, é sempre uma categoria a parte o rock nacional, obviamente, bandas
brasileiras. Sem dúvida tem havido certa escassez de bons discos de rock ou similares produzidos
aqui, falando, claro, de música cantada em língua portuguesa.
Houve muitos retornos ou
lançamentos de artistas que há um bom tempo não produziam nada de novo. A
primeira da lista é a banda Pitty, cujo último disco de estúdio datava de 2009.
Sua vocalista homônima havia iniciado um projeto paralelo folk, e de boa
qualidade, chamado Agridoce. O retorno se deu com o razoável Setevidas. Apresenta o amadurecimento
do instrumental e melódico, boa produção, mesmo tendo sido gravado ao vivo em
estúdio. Boas faixas que pouco lembram seu estilo anterior como Olho Calmo e Boca Aberta. Com algumas outras não seria injustiça pular para a
próximo antes de ouvir 30 segundos. Os dois singles iniciais foram a
faixa-título, que nada acrescenta de bom à carreira dos baianos, e Serpente, uma balada, um pouco melhor
que a anterior, calma e com o melhor solo do disco.
Um forte candidato a disco de
rock brasileiro do ano é Nheengatu
dos Titãs. Também sem lançar nada de inédito desde 2009, é uma volta aos tempos
áureos da banda, deixando de lado o pop-chiclete-de-rádio e mostrando músicas
mais pesadas e letras que contestam o sistema, política, desigualdades, vícios
e manias, além de um pouco de quase tudo. Mesmo não sendo uma obra prima, é de
longe o melhor lançamento dos Titãs em duas décadas, o que é notável para a
banda que perdeu neste período citado músicos como Nando Reis, Arnaldo Antunes
e Marcelo Fromer.Nheengatu contem 14
faixas, todas curtas o suficiente para não se enjoar fácil. A primeira faixa,
também primeiro single, Fardado entra
no clima das manifestações pré-Copa, mas é um álbum que merece ser ouvido na
íntegra, com o volume no máximo e pulando ou balançando a cabeça.
Os mineiros do Skank são famosos
pelos muitos sucessos até hoje acumulados. Seu último disco foi Estandarte de 2008 e agora lançam Velocia, de onze faixas inéditas que
passam pelos estilos já conhecidos dos fãs do grupo.Alexia abre fazendo referência e veneração (exageradas?) a Alexia
Putellas (?!), jogadora do time de futebol feminino do Barcelona. Há ainda
participações de BNegão, Lia Paris, além do parceiro de longa data, Nando Reis.
Multidão, com o reagge-skatípico do Skank, é ao menos interessante, mas causa
estranheza ao final com a mistura do rap. Além desses gêneros, há muito pop,
eletrônico, balada de violão, mas quase nada de rock. O primeiro single
escolhido foi Ela Me Deixou e deixa a
desejar. Para a banda de tantos hits, a falta de um sucesso enfraquece ainda
mais o já inconsistente Velocia.
A estréia do ano se deu com a
banda Malta, vencedora do concurso Superstar, da Rede Globo. O debut se deu com
Supernova. Com uma sonoridade que
lembra bandas internacionais como Nickelback, Seether e Hinder e com letras que
falam quase que unicamente de relacionamentos passados e sentimentos
remanescentes. Talvez a banda de maior sucesso comercial do ano, muito graças à
divulgação do programa que os revelou e por ostentar uma música como tema de
abertura de uma novela da mesma emissora. Os dois grandes sucessos são Diz Pra Mim e Memórias. Ressalvadas as repetições melosas do estilo, há boas
músicas no disco e o grande destaque fica por conta do vocal rouco de Bruno
Boncini.
Detonautas Roque Clube lançou um
CD duplo chamado A Saga Continua,
com um total de 18 faixas. Uma delas, Quem
é você, lembra uma mistura de Raul Seixas com Gabriel, O Pensador.Um Cara de Sorte foi o destaque entre os
singles. Tem espaço para um cover da boa Sempre
Brilhará de Celso Blues Boy. Nada de grandioso no disco, nem mesmo para os
padrões da banda.
Os anteriormente venerados Raimundos lançaram Cantigas de Roda, primeiro de inéditas
desde 2002. Pode ser classificado como o melhor lançamento pós-Rodolfo, que
contava com um CD e um EP, embora fique muito abaixo de quase todos os
lançamentos da formação clássica da banda. Baculejo,
que foi lançada como single, é uma boa música.BOP, mais pesada, é um dos destaques. Algumas faixas tentam
restaurar o teor cômico-pornográfico que os consagraram, Cachorrinha, Cera Quente,
Gato da Rosinha, Descendo na Banguela e Gordelícia.Politics é certamente a melhor do álbum.
A impressão final é de um Raimundos batido no liquidificador com o Tihuana,
embora há o que se aproveite.
Outro retorno, após oito anos sem
material novo, Século Sinistro dos
Ratos de Porão é o mais forte expoente da vertente punk/hardcore/trash metal no
país. Muito peso, bons riffs e vocal gutural de João animando qualquer fã do
gênero, tão escasso em língua portuguesa. Destaque para Jornada para o Inferno, Neocanibalismo
e Boiada pra Bandido.Sangue e Bunda pode causar estranheza ou
risadas devido à participação do porco do vocalista. Sem trocadilhos ou ofensas,
se trata realmente de um suíno de estimação.
Costa do Marfim é o título de novo lançamento dos gaúchos do
Cachorro Grande. Antes, largamente influenciados por bandas como Beatles e
Oasis, aparentemente pularam uma geração de cada e hoje se assemelham a Pink
Floyd e ArcticMonkeys.Nuvem de Fumaça
e Como Era Bom ainda remetem muito
aos primeiros discos do Cachorro, contrastando com a psicodélica Nós Vamos Fazer Você se Ligar, de quase
11 minutos.Eu Não Vou Mudar e Use o Assento para Flutuar (nome,
inclusive, do disco solo do guitarrista Marcelo Gross, lançado em 2013), Crispian Mills passeiam por mares não
antes navegados pela banda. O disco todo, na verdade, pode ser considerado uma
grande viagem de experimentalismo e deve ser saboreado com cuidado.O sabor
talvez melhore com o passar da degustação.
No âmbito cômico da música,
Velhas Virgens lançou Todos os Dias a Cerveja Salva Minha Vida, com as letras
habituais de outros discos. Detonator, ex-Massacration, lançou Metal Folclore:
The Zoeira Never Ends... enumerando personagens de lendas brasileiras com grande
dose de humor e, claro, metal. A última faixa ainda traz uma interação de
Detonator com Gilberto Baroli (dublador, usando seu personagem mais famoso, o
Mestre do Santuário, de Os Cavaleiros do Zodíaco). Os dois discos merecem ser
ouvidos, mas de modo algum serem levados a sério.
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