terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Discos de Rock e Hard Rock de 2014
















            por Marcelo Mendonça


Um dos ícones do rock, o AC/DC, havia prometido um disco para 2014. Alguns problemas surgiram no caminho até lá. Em abril, Malcolm Young, guitarrista e membro fundador, se afastou da banda sofrendo de demência. Em novembro Phil Rudd, baterista, foi acusado de ser mandante de dois assassinatos. Apesar dessas fatalidades, em dezembro chegou às lojas Rock or Bust. Ao bom estilo AC/DC está recheado de boas músicas. Os dois singles, Play Ball e a faixa-título são dignas de playlists com as melhores da carreira dos australianos. Angus Young mostrando suas habilidades, agora na falta do irmão. Todas as onze faixas animam a qualquer fã da banda. A temática do álbum é o estilo roqueiro, como o nome sugere, inclusive nos títulos das faixas: rock. Rock the Blues Away, Rock the House, Got Some Rock & Roll Thunder e a já mencionada, Rock or Bust.


















Muito aguardado, Sonic Highways do Foo Fighters foi lançado em novembro de 2014, gerando um documentário durante suas gravações. Diferente de tudo que a banda lançou até então, a obra merece ser ouvida, ao menos, três vezes para ser digerida totalmente. É notável a falta de uma música-destaque-com-cara-de-hit, como em outros trabalhos. As músicas estão mais longas, no geral, e são apenas oito faixas, embora isso ajude a não cair o nível em nenhum momento. É sem dúvida, uma banda em constante evolução. Melodias bem trabalhadas, linhas de guitarras no momento certo, sem serem repetitivas, ambientes calmos e fortes bem posicionados. Há até solos de guitarra, coisa rara em discos da banda. Congregation é a que mais remete ao velho Foo Fighters, mais enérgica. O álbum encerra com as belíssimas Subterranean e The River. Após as três primeiras audições, esquecendo a expectativa de um novo The Colour and The Shape, dificilmente não se começará a gostar do disco.


















Há um enorme número de bandas que alcançaram uma infinidade de fãs graças a bons álbuns do passado e que há um bom tempo não conseguem repetir o mesmo êxito, seque a mesma qualidade. O Nazareth caberia em tal lista, dado os fracos lançamentos em mais de vinte anos. Em 2014 lançaram Rock ‘n’ Roll Telephone, o último contando com o vocalista Dan McCafferty. Talvez por isso, despenderam de um último fôlego para este lançamento, talvez não a altura de grandes clássicos, mas digno da despedido de Dan. O bom rock ao estilo antigo de Boom Bang Bang abre o disco. Duas mais calmas, Back 2B4 e a Winter Sunlight despertam o sentimento de nostalgia nos fãs dos escoceses. A faixa-título não fica devendo ao restante, com guitarra animadora. Há ainda a boa Long Long Time e Not Today. A esperança que fica é de que, primeiramente, Dan se recupere, e, depois, retorne ao Nazareth junto com a velha inspiração da banda.


















Uma notícia que gerou imensa ansiedade e expectativa em milhares de fãs foi a de que o Pink Floyd lançaria um disco de inéditas em 2014. Porém convinha ter a expectativa moderada por alguns fatores: primeiro, tratava-se de sobras e trechos não usados nas gravações de The Divison Bell de 1994, até então o último lançamento do Pink Floyd; segundo, Roger Waters, o líder da banda pelo mais longo período, novamente não participaria; terceiro, Richard Write, tecladista e também membro clássico, falecido, obviamente também não contribuiria com nada novo. Mas em novembro foi lançado The Endless River, dividido em quatro partes, totalizando dezoito faixas. Basicamente composto por peças instrumentais, esbanja-se beleza com teclado, slide guitar e ebow. Desnecessária a comparação com músicas como Marooned, do The Divison Bell, pois estiveram presente nas mesmas sessões, mas há músicas que remetem a trechos e passagens dos aclamados The Wall e Animals. David Gilmour mais uma vez dá uma ótima demonstração de sua virtuosa guitarra. It’s What We DoAnisinaTalkin’ Hawkin’ são lindas demonstrações disso. No final, a última faixa, a única cantada, Louder Than Words. Talvez não seja tão intenso quando as obras-primas da banda dos anos 1970, mas funciona como um disco bônus para os órfãos deste grupo que foi um dos mais importantes da história da música.


















Bruce Springsteen é uma lenda viva da música americana. Fato. Como muitos que fazem sucesso há tanto tempo, ele poderia ter se acomodado e se contentar em lançar material sem a mesma inspiração ou esforço que antes. Mas a cada lançamento ele prova que há muito fôlego e energia quando ele empunha sua guitarra e começa a cantar. Vindo de um disco muito bom em 2012, a sua foi considerada a melhor turnê de 2013. Já no início de 2014, outro disco, High Hopes, o qual foi feito a partir de algumas músicas lançadas em meados dos anos 1990 e não fizeram grande sucesso, outras que foram descartadas na época e alguma coisa inédita, tudo gravado novamente. The Ghost of Tom Joad, por exemplo, passou de uma balada, ao estilo Bob Dylan de quatro minutos e meio, para uma estrondosa música encorpada, com bateria e guitarras distorcidas de sete minutos e meio. Para engrandecer a obra, em quase todas as faixas há a participação de Tom Morello (Audioslave e Rage Against the Machine). Há boas músicas do início ao fim. Para ler mais sobre este disco, clique aqui.



















Sem nenhum álbum de inéditas lançado desde 2009, o U2 apresentou em outubro de 2014 o disco Songs of Innocence, mostrando toda sua capacidade de se renovar a cada lançamento, sem perder a habilidade de construir ótimas músicas. Se o anterior, No Line on The Horizon, soava como uma prece ou meditação, este novo álbum assemelha-se a uma festa de alegria comedida, após as orações realizadas. Há músicas contagiantes como The Miracle (of Joey Ramone)California (There Is No End to Love) e Iris (Hold me Close), fortes como Raised by Wolves e Sleep Like a Baby Tonight e calmas como Song For Someone e The Troubles. Ainda que não esteja entre os melhores álbuns do U2, serve para engrandecer sua sólida carreira. Para ler a resenha completa deste disco, clique aqui.



















Robert Plant lançar um grande disco não é surpresa para ninguém, mas sempre uma alegria aos fãs. Lullaby and...The Ceaseless Roar vem recheados de canções de alto nível, dignas de um ex-Led Zeppelin. Little Maggie com um ritmo animado, com violinos, flautas e banjos, e um vocal quase sussurrado, abre com grande estilo. A belíssima Rainbow vem a seguir. Embrace Another Fall começa ritmada, mas calma e ganha no meio da música energia e peso para depois dar lugar novamente a calmaria e uma bela vocalização. A Stolen Kiss dá a sensação a quem ouve de estar caminhando na praia vazia num fim de tarde enquanto relembra esse beijo roubado. A balada Somebody There é um dos pontos altos do álbum. Ouvir o disco em volume alto e de olhos fechados seria uma boa dica de uma prática, barata e prazerosa viagem ao norte da Africa.


















Linkin Park, no começo dos anos 2000, teve uma ascensão meteórica, com o perdão do trocadilho com seu segundo disco, Meteora. Mas com o passar dos discos, seguiram o rumo do pop e até do eletrônico, visando mais o sucesso do que as boas músicas. Recentemente, Mike Shinoda declarou estar decepcionado com os rumos das bandas de rock atuais, assumindo que sua banda tem sua parcela de culpa nisso. Felizmente, o disco The Hunting Party, lançado em junho de 2014, é uma boa tentativa de resgatar o espírito roqueiro perdido em seus últimos lançamentos. Keys to Kingdom abre o disco com a típica gritaria de Chester Be   nnington alternando-se com os raps de Shinoda. Guilty All the Same, mostra o tom ao mesmo tempo pesado e cadenciado, antiga marca da banda. A melhor faixa talvez seja Rebelleion, que conta com a participação de Daron Malakian, guitarrista do System of a Down. No final, há ainda espaço para a boa Final Masquerade. Ainda não se deve esperar um disco igual aos dois primeiros, mas o resultado final indica que o Linkin Park parece estar de volta aos trilhos de antes.


















Jack White conquistou milhares de fãs nos últimos quinze anos com suas bandas The White Stripes, The Raconteurs e The Dead Wheather. Desde 2012, iniciou-se em sua carreira solo e em 2014, lançou Lazaretto, mais uma oportunidade para o guitarrista mostrar sua expansiva criatividade. A faixa-título tem um bom trabalho instrumental, principalmente baixo e guitarra, com uma ponte inusitada e experimental. O folk-country é certeiro em Temporary Ground e em Entitlement. Just One Drink é uma das melhores do álbum. Alone in my Home tem uma introdução que remete ao solo de In My Life dos Beatles. Ouvindo-se todo o disco, a impressão que fica é um White passeando por estilos e experimentos sonoros diferentes com tamanha familiaridade que só alguém com sua imaginação e habilidade poderia ter.


















Johnny Cash, como se sabe, veio a falecer em 2003. Out Among the Stars, lançado em março de 2014, foi o terceiro disco de inéditas desde então. Trata-se de uma série de gravações de 1981 que foram descartadas naquele momento. Hoje, lançadas, soam como pérolas descobertas e um grande presente aos fãs do Homem de Preto. A faixa-título abre o álbum de modo relaxante, com todo o charme de slide típico de músicas country. Baby Ride Easy, parceria com sua esposa, June Carter, soa despretensiosamente jovial. She Used to Love Me a Lot, um lamento, como em outras músicas de Cash, causa empatia. O mesmo se pode dizer de After All, esta um pouco mais triste. Entre mais agitadas como Rock and Roll Shoes e I’m Moving On e mais moderadas como Tennessee, é uma obra digna de Johnny Cash em vida, não apenas um amontoado de restos.


















No Fixed Adress é o disco dos canadenses do Nickelback em 2014 e segue apenas com um compendio dos últimos lançamentos. Sem grande inspirações, no momento sequer consegue uma grande música lenta para emplacar nas paradas de sucesso, sendo o máximo que a banda conseguia ultimamente. Edge of a Revolution foi o single lançado para se destacar, embora pareça como uma faixa de fim de disco que está lá para completar a lista. O mesmo pode se dizer de Believe. Satellite é a balada, e, como eles vêm provando que é o campo onde trabalham melhor, não chega a ser descartável. O álbum, contudo, não figura entre os piores do ano, embora a sensação deixada é de que não se deve esperar muito mais do Nickelback no futuro.



Outros álbuns lançados em 2014 merecem ser citados. Mais uma lenda viva do rock, o incansável Neil Young, não lançou um disco em 2014, mas sim dois. A Letter Home, uma coleção de covers em voz e violão gravadas de uma forma inusitada: dentro de uma cabine telefônica. Alguns meses depois lançou Storytime com vinte faixas no total, dez gravadas somente por Young, e mais dez faixas, as mesmas, gravadas novamente com a adição de uma orquestra. Plastic Flowers, em suas duas versões, é a melhor do disco. 



A superbanda Asia, famosa nos anos 1980 pelos hits Heat of the Moment e Only Time Will Tell, apresentou o bom disco Gravitas. Há canções realmente boas como Valkyrie, The Closer I Get to You, Nyctophobia e Joe DiMaggio’s Glove, mas das nove faixas, nenhuma chega a desagradar. Guitarrista habilidoso, cabelos compridos e cacheados, óculos e cartola. Não há como não adivinhar quem seja. Slash lançou seu terceiro disco “solo”, o segundo acompanhado de Myles Kenedy and the Conspirators. Destaque para Automatic Overdrive, World on Fire,30 Years of Life e Bent to Fly. Ainda com ótimos riffs e o bom vocal de Myles segurando, com dezoito faixas, sendo algumas não tão boas. Mas a verdade é que para muitos fãs de Slash quanto mais trabalho do guitarrista, melhor. Com esse lançamento, pode-se dizer que ele tirou um belo coelho de sua cartola.

Nenhum comentário:

Postar um comentário